sexta-feira, setembro 02, 2011

||| القاهرة - Cairo - Quem sou eu?! |||



Experiência alcançada é algo que não se tira, só se divide!

Meus dias no Cairo foram emocionantes. A cidade e a cultura mexeram com a minha estrutura mental e física.
Houve momentos de pausa para reflexões sobre a vida, não que eu quisesse, mas aconteceu naturalmente. O que tenho dela? O que eu quero dela? Qual a minha relação com o semelhante? Existe vantagens em se ter mais? O que é necessário? Qual a definição do mais? Se precisa de pouco para ser feliz? Destino ou conformismo? Muitas perguntas e muitas respostas. Para saber será necessário vivenciar...

Quando se mergulha em uma experiência onde a fé é mais importante do que qualquer coisa, você não sairá ileso, mesmo que não seja a sua fé é possível ver beleza e a pureza das ações, costumes e na forma de devoção.  

Para poder sentir estas energias eu tive que me livrar de todos os meus medos, anseios, julgamentos, traumas, opiniões, crenças para me aprofundar na cultura e no que eles poderiam me ensinar.

Os encantos começaram quando descobri a essência do Ramadã na vida deles. Não faço ideia da sensação, além de fome, do que é ficar aproximadamente 15 horas em jejum (literalmente) com dias em que a temperatura pode chegar a 38 graus ou mais, sem desconsiderar que o ar é seco e que eles trabalham. Tudo bem que alguns lugares possuem um horário especial neste período, mas isto não importa, eles trabalham.

Por volta das 18h, o trânsito da cidade é caótico, apesar de ser comum tanto de dia como de noite, mas neste momento é porque todos estão indo voltando para suas casas a fim de fazer a oração e quebrar o jejum em família, momento extremamente importante.  

Lembro-me das vezes em que ouvia o auto falante da mesquita chamando os homens para as orações, naquele momento meu corpo arrepiava e era tomado de uma tremenda emoção.

Por ter uma mesquita ao lado do hotel, eu sempre ouvia o chamado das orações, não importava o horário, o alto falante anunciava o momento de orar.

Nos primeiros dias eu acordava, quando isto era durante a noite/madrugada, mas depois fez parte.

Para vocês terem um ideia existe um calendário do Ramadã dizendo qual é o horário de inicio e fim do jejum, exemplo: dia 30/08 – inicio “Imsaak” às 4:02 e o fim “Iftar” às  18:21.

Em um destes dias eu estava no trânsito com amigos e no horário de finalizar o jejum dois homens começaram a distribuir suco, de uma fruta típica se não me engano. Ao ver este gesto não entendi, mas aceitei o suco.
Depois questionei o significado e me disseram que a caridade faz parte das ações e que ajudar alguém a quebrar o jejum é muito bom.  Foi um momento de muito significado e pureza, algo feito realmente de coração, assim como todas as vezes em que presenciei homens orando, independente do lugar, ao longo do dia ou noite, os homens lendo o Alcorão no metrô, no trânsito, ônibus e nas ruas.

Toda esta experiência contou com o super apoio e companhia de duas amigas, Maitê e Jéssica, entre outros amigos delas que conheci e que me proporcionaram uma profunda vivência na cultura Egípcia.

Entre tantas, vou comentar algumas:

Dias da semana: Aprendi que a semana começa no Domingo e termina na Quinta-feira.

Comida: Os alimentos são fortes, usa-se muito macarrão, arroz, carnes, exceto porco por conta da religião, cereais, vegetais, entre outros. Os doces são extremamente doces, talvez para compensar a falta de açúcar do chá. Sorvete, todos os que provei eu aprovei.  A culinária é rica e muito atraente.
O  melhor é que existem determinadas comidas que se comem com as mãos, sem ajuda de talheres. No inicio achei um pouco estranho, mas depois de alguns dias eu amei a experiência e fiquei super adepto.



Shisha: Mais conhecido como Narguilé no Brasil. (Narguilé é um cachimbo de água utilizado para fumar).  A Shisha é tradicional na cultura e todos fumam, exceto crianças.   No inicio resisti um pouco, mas nem preciso comentar.

Música: As típicas estão por todos os lados, são da mesma melodia que temos como referência de uma determinada novela, [risos]. Certa vez fomos jantar e no local havia um grupo se apresentando músicas típicas.  Foi incrível ver as famílias em torno das mesas cantando, fazendo os movimentos de braços e olhares, algo que só tinha visto na novela. Foi empolgante!

Noite: O Cairo é uma cidade totalmente noturna. A vida inicia praticamente após às 18 horas e vai madrugada a dentro. Você sempre tem algo para fazer. De um passeio de Faluca (barco) pelo rio Nilo até ficar em um bar fumando Shisha madrugada a fora.

Egiptian Time: Os Egípcios tem uma particularidade quanto aos horários, eles não são pontuais. Eles podem atrasar até uma hora.

Homens e Mulheres: Já comentei sobre o cumprimento caloroso entre os homens e de fato tem mais. Eles andam nas ruas de mãos ou braços dados, abraçados, isto é super comum e NORMAL. Com as mulheres existe uma questão de respeito sobre estas demonstrações de afeto público.
Mulheres andam juntas, mas não percebi que eles adotam a mesma postura dos homens, são mais reservadas, falando da geração mais conservadora, pois existem as jovens que usam as roupas típicas mais tem um contato mais próximo com as amigas, mas sempre de respeito, afinal isto é uma característica forte da cultura.
cumprimentar com um beijo no rosto ou um abraço é estranho, afinal foi assim, me policiei desde a roupa, sempre calça jeans e camisetas, até o cumprimento entre amigos. Acho que faz parte respeitá-los independente de ser estrangeiro.
Um dos pontos mais interessantes que me dei conta depois que fui embora é que dos 10 dias no Cairo eu só conversei uma mulher egípcia.  Ela me vendeu um lenço de papel. Isto era algo que eu já esperava, pois a maioria do comércio é liderado pelo homens.

No geral tive a oportunidade de conhecer lugares frequentado por turistas e outros locais não. Todos os lugares foram fantásticos, pois eu sempre tinha algo para extrair.

Nunca na minha vida pensei em conhecer um Oásis, mas assim se fez! Fantástico olhar para aquele lugar verde, cheio de casas, piscina e uma lagoa ao fundo no meio do deserto.

As pirâmides são emoção pura, lugar de muita energia e significado, não só histórico, pois desde a sua construção até as posições que foram erguidas têm uma justificativa envolvendo uma crença conforme a cultura da época, que particularmente me fascina.

Existem muitos lugares que conheci e todos com sua particularidade, mas quero acrescentar um evento que participamos na minha última noite no Cairo.
Inicialmente, assistiríamos uma apresentação de Tanura  (dança típica) mas quando chegamos ao local a casa estava lotada e não poderíamos entrar.  Como a noite no Cairo é intensa, ao lado deste centro cultural havia outro com um festival Sufi  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufismo).

Ao entrarmos vimos que o local estava lotado, sem lugar para sentar. Estávamos lá e eu não fazia a menor ideia do me esperava. A única certeza é que haveria música e talvez dança.

Minutos depois conseguimos sentar, pois foram colocadas cadeiras ao longo do corredor e, por sorte, ficamos com o primeiro puf  a poucos metros dos grupos.
O desconhecido dá medo, mas não neste caso, porque ele foi renovador. Este encontro de músicas típicas da cultura Sufi foi cantado por diversos grupos (Egípcios, Paquistaneses, Turcos, Indianos, Sírios e Tailandeses (se não me engano). Inicialmente cada grupo apresentou uma música e ao final todos cantaram a mesma canção. As músicas foram em idioma local de cada grupo, mas naquele momento eu não precisava entender nada, porque era só a alma presente.
Entre todos os eventos que já fui eu nunca chorei tanto, até mais do que no casamento da minha mamãe Dedé aos 11 anos. Eu praticamente lavei a alma da primeira até a última música. Infelizmente é algo que não dá para explicar, mas posso dizer que realmente nada é por acaso.
Este evento foi uma despedida com chave de ouro para o Cairo e com gostinho de quero mais.

Muitos sabem que tenho uma relacionamento singular com Londres, mas desta vez um lugar como o Egito conseguiu, entre outros lugares que já tive oportunidade de conhecer, fazer uma ruptura nesta relação ou pelo menos uma divisão de atenção.

O que posso dizer sobre o minha vivência no Egito é que não sou mais o mesmo, querendo ou não, o meu olhar está em outra direção! 

Agradeço a todos que estiveram comigo nestes dias, pois esta experiência é para toda a vida!



Oásis - Fayyum

Oásis - Fayyum - vista da piscina

Cairo - Mesquita - Cidadela

Doces Típicos

Passeio de Faluca pelo Nilo

Dispensa apresentações

Apresentação de Sufi


Ma’a salama

Agora a aventura é Londres!